O pragmatismo pode "matar na unha".

19/11/2024

🦋🫎O Lado Sombrio do Pragmatismo Norueguês: Quando Ele 'Mata na Unha' a Identidade dos Estrangeiros❤️🦜

Você sabe o que significa "matar na unha"? No Brasil, essa expressão tem diferentes significados, dependendo do contexto. Pode significar resolver um problema com maestria, eliminar algo de forma rápida e eficiente ou – em um sentido mais sombrio – lidar com algo de forma lenta, quase imperceptível, mas igualmente eficaz.

Agora, imagine essa ideia aplicada ao pragmatismo norueguês. O pragmatismo norueguês é eficaz, direto e funcional – uma ferramenta poderosa para resolver problemas e manter a ordem. Porém, para quem vem de fora, esse mesmo pragmatismo pode, lentamente, "matar na unha" algo muito precioso: a identidade cultural e a capacidade de expressar quem realmente somos.

Pragmatismo e Sommerboleta

Quando comecei o Sommerboleta, não havia ninguém – NINGUÉM – que me apoiasse, exceto uma pessoa que, naquela época, tinha um papel profissional na minha vida. Foi solitário, mas eu sempre fui aberta sobre o meu sonho e meu propósito. Eu quero dar ao pragmatismo norueguês um rosto e uma definição. Quero esclarecer que ser uma construtora de comunidade é algo diferente de ser boa em organizar eventos.

Com o Sommerboleta, quero construir algo maior: uma iniciativa de construção de comunidade, e não um trabalho social na Noruega. Aqui, é perfeitamente aceitável ser chamada de Alice, porque, neste momento, sinto como se estivesse atravessando uma espécie de País das Maravilhas, cheio de desafios e pequenos momentos de descoberta. Se você ainda não leu meu texto sobre Alice, eu o coloco aqui. Apesar de me sentir como uma pequena Alice, sou realista. Também não acredito que minha mensagem consiga romper o pragmatismo norueguês, mas penso que é importante dar a esse fenômeno invisível uma definição e um nome.

Pragmatismo Norueguês: Uma Espada de Dois Gumes

O pragmatismo norueguês é frequentemente exaltado por sua capacidade de simplificar a vida e eliminar o que é desnecessário. É um estilo de vida que valoriza o essencial: menos drama, mais ação. No entanto, para muitos estrangeiros, essa eficiência pode ser percebida como algo frio, distante e, em alguns casos, até desumano.

Quando o pragmatismo norueguês é aplicado sem considerar nuances culturais, pode criar uma pressão para que os estrangeiros se adaptem à norma local, muitas vezes às custas de suas próprias raízes culturais. É como se as cores vibrantes da diversidade fossem gradualmente apagadas em nome da funcionalidade.

"Matar na Unha" a Espontaneidade e o Calor

Culturas como a brasileira são conhecidas por sua espontaneidade, calor humano e a importância das relações sociais. Essas características são frequentemente vistas como "excessivas" no contexto norueguês, onde as interações geralmente são minimalistas e focadas em um objetivo específico. Para um estrangeiro, isso pode gerar uma sensação de exclusão ou inadequação.

Imagine alguém acostumado a um caloroso "bom dia" e a conversas leves no elevador, chegando a um país onde o silêncio no transporte público e as interações sociais mínimas são a norma. Aos poucos, essa pessoa pode sentir que precisa reprimir sua espontaneidade para se encaixar. Assim, o pragmatismo norueguês, metaforicamente, "mata na unha" o calor humano e a riqueza que os estrangeiros trazem consigo.

Quando a Integração se Torna um Sacrifício

Para muitos estrangeiros, adaptar-se à sociedade norueguesa é uma jornada que exige não apenas esforço, mas também concessões profundas. Ao tentar "dar certo" na Noruega, é fácil cair na armadilha de acreditar que é necessário abrir mão de aspectos fundamentais de sua própria identidade.

Esse processo de "morte lenta" não é apenas emocionalmente desgastante, mas também culturalmente empobrecedor. Em vez de enriquecer a sociedade com sua diversidade, o estrangeiro sente-se pressionado a apagar o que o torna único, algo que, a longo prazo, pode enfraquecer a própria sociedade norueguesa.

Trabalho Social e o Olhar dos Estrangeiros

O trabalho social na Noruega é frequentemente visto como uma forma de "ajuda", onde quem recebe é colocado na posição de necessitado. Nós, que viemos de fora, estamos muito conscientes disso. Muitos de nós não queremos ser vistos como quem precisa de ajuda, mas como contribuintes ativos para a comunidade. É exatamente por isso que o Sommerboleta trata de construção de comunidade, e não de trabalho social. Queremos criar um ambiente onde todos sejam participantes iguais, não receptores, e onde a diversidade seja celebrada como uma força, e não como um desafio.

É Possível Equilibrar Pragmatismo e Inclusão?

A boa notícia é que a mudança é possível. O pragmatismo norueguês não precisa ser uma ferramenta que apaga identidades, mas pode ser usado para criar um ambiente que acolhe e valoriza a diversidade. Para isso, tanto noruegueses quanto estrangeiros precisam estar abertos ao diálogo e à empatia.

Os noruegueses podem aprender a incluir mais calor em suas interações e valorizar as diferenças culturais como uma fonte de aprendizado e crescimento. Por outro lado, os estrangeiros podem encontrar formas de equilibrar a adaptação sem perder suas raízes e autenticidade.

Diversidade como Força, Não Fraqueza

No fim das contas, não é a homogeneidade que enriquece uma sociedade, mas a capacidade de coexistir com respeito e compreensão. O pragmatismo norueguês tem muito a oferecer, mas atinge seu pleno potencial quando combinado com valores como empatia, calor humano e inclusão.

Então, voltando à pergunta inicial: você sabe o que significa "matar na unha"? Talvez agora você veja essa expressão sob uma nova perspectiva – como um lembrete de que o pragmatismo pode ser uma ferramenta poderosa, mas deve ser usado com cuidado para não sufocar o que temos de mais valioso: a diversidade humana.